quinta-feira, 1 de julho de 2010

Nunca mais amar.

E eu que jurei nunca mais amar ninguém nesse mundo.
Eu que sofri tanto, com tanta pena de mim fiquei e jurei nunca mais amar alguém.
Às vezes eu olhava ao meu redor, mas nada demais eu via naqueles moços que eu fitava e feliz eu pensava que daquele mal nunca mais padeceria. Minha cota de amor chegara ao fim, naquele vinte e um de setembro quando pela última vez meus olhos olharam aos seus e como me dói até hoje todo dia vinte e um de qualquer calendário, esse dia deveria ser extinto, do dia vinte saltaríamos para o dia vinte e dois e ninguém se importaria, afinal, é apenas um dia. De fato, um dia que me custou a vida inteira.
Só agora, tempos depois, consigo me lembrar do estrago que aquele amor me causou. Eu ainda era menina e inocente como tal, mas aí você chegou e desarrumou minha casa e minha vida e menina nunca mais eu fui.
Tornei-me mulher, sem saber direito como fazer, eu tentava arrumar a casa e a vida, mas você sempre desorganizado, chegava e destruía. Eu lavava as louças e as roupas, preparava nosso almoço, arrumava a casa o quanto podia, mas você chegava e tudo desarrumava, concordo que às vezes era bom, às vezes gostava de algumas surpresas, quando por exemplo, você chegava e espalhava rosas pela casa inteira e eu te desarrumava toda cama em troca, ah como você gostava...mas logo em seguida já se levantava e me deixava toda atrapalhada, sozinha e desamparada. Numa dessas surpresas, você bem se lembra o que aconteceu....fui ficando cansada e deixando a casa de lado, assustada me olhei no espelho e mais assustada fiquei ao imaginar que estava doente, barriga d'água era muito comum nas minhas terras do passado, mas barriga d'água que nada, era barriga de gente, barriga que cresce e depois de nove meses nasce e aparece e nasceu nossa filha Maria Luíza, linda como a lua e tão apaixonada por ela fiquei que não queria saber de mais nada, nem de você nem da casa.
Você sempre muito zangado com a bagunça e meu descaso, e eu te odiava e desejava que nunca mais você voltasse, quando se atrasava, por causa das mulheres, bebidas e noitadas, eu bem pensava: "Que bom seria se ele nunca mais voltasse, se para sempre ficasse só Maria Luíza e eu..". Porém, você sempre voltava e mais eu te odiava, coisas de mulher casada.
Mas como todo tormento um dia chega ao fim, foi naquele tal dia vinte e um de setembro que chegou a minha vez, já conformada com a vida que levava, você apareceu no centro da sala, na frente da Maria Luíza, cheio de malas e avisou que daquele dia nós não passávamos, eu me fingi de durona, dei até risada, suspirei de alegria e coragem, que pena de mim, só ali eu vi que você tinha conseguido me fazer mulher e que menina outra vez somente Maria Luíza seria.
Passado o torpor da sua audácia, quis te matar, te mataria se uma arma tivesse ali, como eu quis te matar, mas não teve jeito nem esperneio, você levantou suas malas e olhou dentro dos meus olhos, olhou novamente e pela última vez, abriu a porta e saiu.
E depois nem em Maria Luíza eu conseguia pensar, tudo que eu planejava dia e noite era me vingar, vingar, vingar...Mas não me vinguei, só consegui vingar a mim mesma, me culpando pelo seu abandono.
Precisei de muito tempo e afazeres para poder entender como tudo aconteceu, hoje eu sei que você nunca me mereceu, mas foi homem em assumir sua vontade por outra vida, não sei se foi covardia ou ousadia, arrumando as malas e partindo.
Maria Luíza e eu ficamos, passamos às duras penas, mas hoje estamos fortes, ela ainda é uma menina, doce feito mel e linda como uma flor, isso você perdeu.
Eu jurava nunca mais amar ninguém nesse mundo. Eu levava minha vida do jeito que se seguia, era feliz com minha filha, trabalhava e tinha as poucas contas quase sempre em dia, a vida não é fácil...
Vira e mexe Maria vinha e me dizia que não me trocaria por mãe nenhuma dessa vida, coisas ainda de menina. Eu disfarçava, me continha e a noite antes de dormir chorava sob as cobertas escondida. Essa menina me prega cada uma...
Assim o tempo foi passando e milagrosamente fui me curando, as mágoas todas fui perdoando, de você fui esquecendo... Como é bom ser livre de novo.
Muito tempo passou....
E hoje olhando ao meu redor, fitei alguém que disparou meu coração, e jurei para mim mesma não deixar escapar essa emoção.
Acho que sem querer ressuscitei meu coração.


Mariana Lima de Almeida
29/06/2010.

Nenhum comentário: