quarta-feira, 27 de julho de 2016

Já fui boba, mas nunca Santa
Santas não existem!
Já tentei acreditar em semideuses
Deuses só castigam a inteligência da gente
Santos e Santas só se for do pau oco.
Já fui boba e ainda sou
Boba de amor, ainda acredito na flor
Mas a idade e o tempo te trazem
Maturidade e uma dose de serenidade.
Indiferença dói
Arranha a garganta como fel
Mas adoço um café com mel
Viro a página da vida e recomeço meus dias
Nada é tão definitivo
Como o dia de amanhã
Que nasce com sua autorização
Ou não!
Sei degustar o vinho e o pão
O sim e o não
Da vida que nunca passa em vão.



(Mariana L. de Almeida)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

De todas as mulheres do mundo.



De todas as mulheres do mundo
Eu já fui todas
De menina e santa
Casta e puritana
À sacana e insana
Aquela que engana
Em troca de qualquer aliança
Já fui inocente como nova
Já fui coerente como velha
Já fui linda como a lua cheia
Já fui feia como areia seca do sertão
Já disse sim e já disse não
Já entrei em templos e igrejas
Já dancei com as bruxas sob o clarão
Da imensidão da lua sobre o chão
Já entornei o vinho, o lírio, a papoula
Já mastiguei a hóstia, o pão e o sermão
Já vomitei em latrinas de ouro
Já comi em pratos de papelão
Já fui feliz ao pisar na terra com pés descalços
Já amei na beira do mar enquanto a água salgada
Molhava meu vestido de flor
Já chorei sozinha em rodovias desertas
Sem carona, sem carinho, sem deus.
De todas as mulheres do mundo
Carrego cada uma delas no meu olhar.






Aquela menina.




Por um instante
Ainda pude ver
A menina que um dia fui
Sim! Por um instante apenas
Esbarrei com ela no espelho pela manhã
Meu Deus, o que fiz daquela menina
Que um dia em mim habitou?
Por uma fração de segundos
Meus olhos encararam os dela
Vi como ela sorria alegremente e sem motivo algum
Aquele doce menina só entendia de amor
E nada mais.
Me encarou no espelho um pouco horrorizada, eu sei
Não entendeu os caminhos que escolhi
Ou que por eles fui levada sem a autorização dela
Aquela sapequice do olhar me encantou
Amei aquela menina, talvez pela primeira vez
Prometi não machucá-la mais, era preciso nos perdoar
Ela imediatamente me sorriu, leve
Eu retribuí com uma lágrima no olhar
E enfim me sentindo em paz.