terça-feira, 24 de maio de 2016

Encontros e Desencontros.

Saí das batidas rítmicas do teu coração
E entrei para os números estáticos
Dos encontros vividos num dia de maio.


Saí dos teus livros de poemas
E hoje estou em alguma página
De qualquer antiga agenda
Lembrando tudo que não não vivemos.



(Mariana L. de Almeida)

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Por tanto tempo.

Por tanto tempo estive afastada de mim, tinha medo de me aproximar e conhecer a verdadeira face de quem nunca enfrentei, de quem nunca aceitou resignadamente tudo aquilo que a vida impôs, de quem sempre foi contra os fatos, de quem não pôde gritar.
Por tanto tempo senti pena e até certo asco de mim por amar o impossível, o inacabado, o feio, o machucado, por amar o que não se pode amar. Afinal, Narciso acha belo o que é espelho.
Por tanto tempo não pude viver, pois só viveria aquilo que não pudesse ver e meus olhos esfomeados e raivosos viam tudo, viam demais, viam o que não se pode ver.
Por tanto tempo pratiquei um lento suicídio e nas diversas tentativas esperava no fundo ressuscitar-me. Era como que acreditar e testar milagres e que na hora H o milagre irromperia e me resgataria vitoriosa. Eram devaneios solitários, noites tão longas para dias tão curtos, o meu tempo era outro.
Assim o tempo passou entre palavras riscadas, palavras caladas, lamúrias literárias em vãos, nenhuma parede me ouvia nem se importava com minhas demências. O triste de ser demente é ter que fingir, fingimos o tempo todo, sem pausa e sem nunca, nenhum descanso.
Pensei na morte com profunda ternura, enfim, isso tudo haveria de findar-se, essa estupidez toda haveria de acabar e virar poeira no espaço, mas a morte não veio como mais um fracasso de meu caminho.
De poeira em poeira o caminho segue sorrateiro, de poeira em poeira teceu-se os sentimentos e pensamentos, de poeira e cruz,  só a poesia restou.

(Mariana L. de Almeida)



segunda-feira, 9 de maio de 2016

Me pergntaram o que é poesia


Confesso que senti
Um aperto no peito


E não respondi.


Queria entender o motivo da dor


Não entendi


Mas continua doendo.




(Mariana L. de Almeida)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O filho que não fizemos.






O filho que não fizemos vive sempre ao meu lado
O filho que não fizemos gerou-se pela ausência
Nem sangue, nem veias, nem nada....
Gerou-se pelos ares, azares
Mas sussurra enquanto caminha ao meu lado
Nos acusando, de fato!



Aquela foda infeliz foi incapaz de gerir,
Semear vida e florir.
Aquela foda infeliz gerou somente rancor
Daquele encontro de pele e dor
Foram palavras expostas, promessas falsas
Um amor canalha que marca na alma como faca


O filho que não fizemos fez-se por si só
E foi abandonado como lixo jogado no mato
Ainda que jogado sem ser fecundado
Pior que feto abortado, talhado
Insiste em crescer e viver ao meu lado.


(Mariana L. de Almeida)




Da vida.

Da vida, só quero a liberdade
E com ela eu decido
Com quem dividir asas, voar alto
Não a divido com quem vem
E se impõe ao meu lado...
Assumo a aterrissagem,
Bagagem e o preço da viagem
Caminho tantas vezes calada
Sigo meu rumo, minha estrada
O meu porto não é seguro
Nem banhado de águas calmas
Sigo adiante, nau à deriva
Invento mil cais em que poderei chegar
E hastear minha bandeira, finalmente, de paz.



Mariana L. de Almeida.


(Fotogarfia: Gianfranco Lacaria, Rio Lafferty próximo ao Porto da Irlanda.)